quarta-feira, 8 de junho de 2011

LIDERANÇA E A GESTÃO EFICAZ - PRINCIPAIS FATORES - 2011

Principais fatores relacionados com a liderança e a gestão eficaz da escola



1. Liderança profissional da direção e/ou da equipe de gestão pedagógica
Este é um fator-chave que está presente em praticamente todos os estudos sobre escolas eficazes, sejam elas de ensino fundamental ou médio. O conceito de liderança profissional não se refere somente à qualidade individual dos lideres, mas ao papel que os líderes desempenham, a seus estilos administrativos, à relação deles com os valores e objetivos da escola, bem como suas abordagens em relação a mudanças. Vale lembrar que a liderança que aqui estamos identificando com a pessoa do diretor ou gestor da escola pode também ser exercida pelo conjunto da equipe gestora, inclusive através de uma distribuição de responsabilidades entre os diferentes profissionais da equipe que dirige a escola. Assim, cada membro da equipe pode exercer parte desses papéis de forma coordenada para obter no conjunto o mesmo efeito na condução da escola. Neste texto, quando individualizamos na figura do diretor ou gestor, na verdade estamos nos referindo à equipe gestora da escola.
A Liderança Eficaz é, geralmente, firme e objetiva. Neste sentido, resultados de pesquisa sugerem que, em escolas eficazes, os diretores dão grande ênfase ao consenso e à busca de unidade de objetivos entre membros da equipe de gestão. Além disso, esses líderes são capazes de mediar as relações, intercedendo ou “amortizando” o impacto na escola diante de “agentes externos” que façam uma interferência não favorável ao projeto de escola, ou demonstrando habilidade, quando necessário, para obter recursos adicionais, manter redes de contato de apoio com autoridades locais, universidades ou consultores para impulsionar programas de melhoramento escolar.
Essa firmeza se expressa, também, no processo de seleção de professores e, quando necessário na sua substituição, ainda que as pesquisas indiquem que esta característica é mais fortemente associada aos momentos de implantação de projetos e/ou de mudanças institucionais.

A Liderança Eficaz mantém um enfoque participativo, ou seja, promove uma gestão democrática, baseada no compartilhamento de responsabilidades com outros membros da equipe gestora e o envolvimento mais geral dos professores no processo de tomada de decisão. Isto significa o envolvimento de vice-diretores em questões políticas relativas à instituição, o envolvimento dos professores em questões administrativas, nas consultas sobre gastos e no planejamento curricular, revelando a prevalência de uma “cultura colaborativa” na escola.

As pesquisas revelam que o diretor eficaz não é necessariamente o administrador mais antigo, mas aquele que consegue se colocar como liderança profissional pelo conhecimento do que ocorre em sala de aula, o que inclui o currículo, as estratégias de ensino e o monitoramento do progresso dos alunos.

Para analisar essa questão na sua escola, podemos destacar os seguintes indicadores: o gestor eficaz consegue projetar um perfil de líder competente através de suas ações e de sua presença efetiva no cotidiano escolar, o que lhe dá legitimidade para avaliar a maneira como os professores trabalham. Isto significa que o impacto dos gestores no desempenho e progresso de seus alunos é indireto e se materializa através da influência que eles exercem na cultura da escola e nos professores, nas atitudes e comportamentos que afetam as práticas de sala de aula e a qualidade do ensino e aprendizagem.
2. Objetivos e Visão Educacional Compartilhada
As escolas são mais eficazes quando membros da equipe chegam a um consenso a respeito dos objetivos e valores da escola, e suas práticas revelam consistência em relação a esses princípios, valores e objetivos. Isto mostra a importância de se chegar a um “senso de comunidade”, no qual, além da prevalência do trabalho cooperativo, há na escola clareza na comunicação quanto ao que se busca construir, que serve de referência para todos os envolvidos. O grau com que isso acontece está parcialmente nas mãos do gestor, já que depende também das características mais amplas da escola.

Este item sintetiza, portanto, o valor da busca de uma unidade de propósitos e a concretização desses propósitos através de práticas consistentes e num clima de colaboração docente. Neste ponto, é preciso destacar a necessidade de buscar não a padronização - que seria a própria negação da dimensão humana que constitui a relação pedagógica, mas a unidade na ação, entendida como condição para a construção de uma identidade institucional e, consequentemente, como referência para o desenvolvimento de práticas consistentes e compatíveis com esta visão educacional compartilhada. Este fator tem conseqüências também sobre a disciplina, pois os alunos têm maior probabilidade de seguir princípios e diretrizes de comportamento quando eles entendem que os padrões de disciplina são baseados em expectativas gerais estabelecidas pela escola.

Para avaliar este fator na sua escola, podemos destacar os seguintes indicadores: planejamento e avaliação do projeto pedagógico e dos planos de ação da escola, de forma participativa; a atuação de órgãos colegiados – conselhos escolares, associações de pais e mestres - APMs, grêmios estudantis e outros; estabelecimento de articulações e parcerias e utilização de canais de comunicação com a comunidade escolar.
3. Escola como um "ambiente de aprendizagem"
Entendido como um ambiente de trabalho organizado, atraente e intelectualmente desafiador. Isso se traduz pela construção solidária de ambientes tranqüilos e orientados para as tarefas, e se conquista pelo diálogo com os alunos, pelo incentivo às atitudes adequadas ao ambiente escolar que se aliam a boas práticas de aprendizagem.

Por outro lado, é importante não negligenciar o ambiente físico da escola. Deste ponto de vista, a escola eficaz é aquela que apresenta bom estado de conservação de suas instalações e torna possível a criação de situações estimulantes ao estudo e ao convívio. Isso significa, por exemplo, dar visibilidade aos trabalhos produzidos pelos diferentes grupos de alunos, manterem murais sobre assuntos de interesse dos mesmos e/ou complementares aos temas em estudo, comunicar eficazmente as intenções e procedimento básicos da escola (reuniões de pais, eventos, atividades extraclasse etc.).

Em suma, as pesquisas mostram que condições de trabalho atraentes tendem a melhorar o clima escolar, enquanto prédios negligenciados tendem a encorajar o vandalismo e desmotivar os profissionais e os alunos. Para nortear a avaliação deste fator na sua escola, podemos destacar os seguintes indicadores de qualidade: organização dos registros escolares; utilização das instalações e equipamentos; preservação do patrimônio escolar; interação escola/comunidade; captação e aplicação de recursos didáticos e financeiros.
4. Concentração/foco no ensino e na aprendizagem
Com maximização do tempo de aula, ênfase nos aspectos acadêmicos e foco centrado no desempenho dos alunos e na qualidade dos resultados. Este fator, apesar de parecer óbvio, pode revelar grandes diferenças entre as escolas.

A eficácia escolar é claramente dependente de ensino eficaz na sala de aula, o que implica a boa utilização do tempo de aula, que por sua vez passa por questões relacionadas à pontualidade do professor, aos horários de início e término das aulas. O ensino eficaz está também relacionado à atenção dedicada às questões de rotina e organização, para que o tempo investido nestas atividades não se faça em detrimento do tempo destinado às atividades pedagógicas propriamente ditas. A eficácia docente inclui, ainda, a capacidade do professor em manter o foco nos objetivos pedagógicos e não apenas nos objetivos afetivos e/ou relacionais.

Além disso, este fator é influenciado pela quantidade de dias dedicados às aulas regulares e disciplinas acadêmicas, pelo controle das variáveis externas para que distúrbios ocorridos fora de sala não prejudiquem o andamento regular das aulas. É o que se convenciona identificar como ênfase acadêmica, que se traduz na capacidade da escola cuidar especialmente da proposição e correção dos deveres de casa, valorizando os conteúdos acadêmicos e sua efetiva apropriação pelos alunos através da garantia do rápido retorno sobre as produções e atividades avaliativas realizadas com os alunos, que incluam os aspectos passíveis de serem aprimorados.

Os fatores que influenciam a ênfase acadêmica se relacionam ao domínio dos conhecimentos pelos professores, à regularidade na oferta das disciplinas, evitando-se a alta rotatividade docente, e à cobertura do currículo. Em síntese, este fator abrange processos e práticas de gestão pedagógica orientados para assegurar a aprendizagem dos alunos, em consonância com o projeto pedagógico da escola.

Para nortear a avaliação deste fator na sua escola, podemos destacar os seguintes indicadores: atualização periódica da proposta curricular; monitoramento da aprendizagem dos alunos; inovação pedagógica; políticas de inclusão com eqüidade; planejamento da prática pedagógica; e organização dos espaços e tempos escolares.
5. Altas expectativas em relação à capacidade de aprendizagem dos alunos
É uma das características mais importantes das escolas eficazes. Este fator diz respeito não apenas ao professor e seus alunos, mas principalmente a um contexto escolar no qual a ênfase acadêmica é parte de uma cultura institucional, em que os alunos percebem que os professores têm altas expectativas em relação ao seu desempenho, e estes, por sua vez, percebem que a direção também alimenta altas expectativas em relação à sua capacidade de atuação profissional, assim como a escola percebe a existência de altas expectativas dos pais e da sociedade. Essa mobilização de expectativas tem efeito sobre a auto-estima dos envolvidos e, por isso, o papel da liderança deve ser o de fomentar estes valores e sentimentos no ambiente escolar.

Em suma, é uma característica das escolas eficazes o cuidado com o ambiente, com as pessoas, e com as relações em favor da aprendizagem. Por isso, é necessário que a gestão da escola seja orientada por regras claras e consensuais; que o líder, diante de qualquer problema, atue e dê retorno imediato aos envolvidos; por fim, que cuide da auto-estima e do clima de respeito e integração entre todos, promovendo a busca permanente da melhoria no desempenho dos alunos e seu direito a aprender.
6. Monitoramento do progresso
É uma idéia-chave para definir uma estratégia de gestão eficaz. Esse monitoramento se configura no acompanhamento dos alunos individualmente, de cada turma em particular e da escola como um todo, buscando, sempre que necessário, as alternativas para acertar as rotas e metas quando os resultados indicam qualquer problema.

Não são apenas as notas e resultados acadêmicos que servem de referência a este propósito. Os registros produzidos pelos professores sobre pontos fortes e fracos apresentados pelos alunos combinados com dados mais objetivos de avaliação, também podem constituir bons subsídios neste sentido.

As pesquisas sugerem que medidas corretivas “equivocadas” podem ser tomadas se as avaliações forem realizadas em intervalos muito curtos de tempo ou através de processos excessivamente extensos, possivelmente por incorrer em análises “apressadas” ou, por oposição, por fazer com que a morosidade prejudique as decisões. De qualquer forma, esses processos de monitoramento criam mobilização interna, ou seja, concentram a atenção de alunos, professores e pais em torno da discussão sobre os objetivos da escola e de suas realizações. Esse reforço do foco nos resultados escolares pode aumentar a comunicação de altas expectativas em relação ao trabalho realizado, além de fornecer dados que acabam por informar o planejamento e ajudam a redimensionar os aspectos de organização, funcionamento e métodos de ensino e de avaliação da aprendizagem, transmitindo aos alunos uma mensagem positiva, no sentido de que a escola está interessada neles, no seu progresso.

O envolvimento ativo de diretores e membros de equipe técnica no monitoramento contribui para melhorar os resultados escolares: um conhecimento detalhado dos trabalhos realizados na escola, por exemplo, através de visitas às salas de aula.

A incorporação das atividades de monitoramento e avaliação como parte rotineira do processo de tomada de decisão na escola assegura que as informações sejam usadas ativamente. È importante lembrar que esta informação – sobre o progresso escolar dos alunos - precisa também estar relacionada com o desenvolvimento dos professores, cuja formação continuada pode e deve integrar os resultados dessas atividades.

Para nortear a avaliação deste fator na sua escola, podemos destacar os seguintes indicadores: processos e práticas de gestão voltadas para assegurar a melhoria dos resultados de desempenho da escola – rendimento, freqüência e proficiência dos alunos: avaliação e melhoria contínua do projeto pedagógico da escola; análise, divulgação e utilização dos resultados alcançados; identificação dos níveis de satisfação da comunidade escolar, com o trabalho da gestão e transparência de resultados.
7. Direitos e responsabilidades do aluno
Este fator retoma e aprofunda o aspecto que enfatiza a existência de ganhos em relação à auto-estima e resultados dos alunos, quando estes têm papel ativo na vida da escola e são convidados a assumirem parte da responsabilidade por sua própria aprendizagem. A auto-estima dos alunos é fator importante na determinação de desempenho da escola e as atitudes dos professores para com eles expressam, de diversas maneiras, como esta complexa dimensão humana vai sendo modelada. A maneira como os professores se comunica com os alunos, até que ponto os alunos são respeitados e sentem que são compreendidos, a percepção que eles têm sobre o esforço ou interesse dos professores em atendê-los em suas dificuldades individuais, têm influência benéfica sobre os resultados escolares, transmitindo dessa maneira confiança da comunidade escolar na habilidade dos alunos para estabelecer padrões de comportamento maduro. Esse aspecto abrange processos e práticas de gestão que favoreçam o envolvimento e compromisso de professores e demais profissionais, pais e alunos com o projeto pedagógico da escola.

Para nortear a avaliação deste fator na sua escola, podemos destacar os seguintes indicadores: a integração entre os profissionais da escola e os pais e alunos; o desenvolvimento profissional contínuo; o clima organizacional; a avaliação de desempenho; a observância dos direitos e deveres; a valorização e reconhecimento do trabalho escolar.
8. Parceria família-escola
As pesquisas sobre escolas eficazes em geral mostram que relações de apoio e cooperação entre família e escola têm efeitos positivos sobre a aprendizagem. Em que pese à dificuldade dos pesquisadores em definir a natureza da participação ou apoio das famílias à escolarização, que pode ter formas e níveis tão diversos conforme os contextos e faixas etárias, alguns estudos mostram os benefícios decorrentes do envolvimento dos pais em reuniões regulares de acompanhamento do progresso e avaliação dos alunos; quando a escola faz uma política de “portas abertas” ou abre espaço para que os pais ajudem nas salas de aula, eventos ou viagens.

Em todas essas possibilidades, o que parece prevalecer é o clima de colaboração, apoio e confiança que se estabelece entre família e escola, sobretudo no desenvolvimento da responsabilidade do aluno pelo seu próprio aprendizado. Nos estudos sobre a relação das famílias em escolas eficazes, os pesquisadores argumentam em favor de um papel mais ativo dos pais nos processos auto-avaliativos institucionais com possíveis influências sobre o planejamento escolar.
9. Escola como organização orientada à aprendizagem
Este fator pode ser compreendido de duas formas. Por um lado, a escola é vista como espaço formativo para todos os envolvidos, ou seja, professores, membros de equipe de coordenação ou diretores, alunos e pais.
Conclusões
Numa acepção mais específica, a escola é vista como uma organização na qual todos se comprometem com o projeto de ensino-aprendizagem dos alunos

Para tanto, é necessário que as funções de apoio administrativo, assim como os setores especializados, funcionem de modo a proporcionar as melhores condições possíveis de aprendizado e de atendimento dos professores e alunos no espaço escolar.

Também é necessário que a formação da equipe se dê neste espaço, em serviço, de forma ajustada às necessidades e desafios da prática pedagógica e como parte integrante de um ambiente educacional cooperativo, que tem seu foco no apoio para melhorar o currículo e o ensino em sala de aula, de forma contínua e progressiva.

Os estudos também realçam a importância de se pensar o desenvolvimento de professores no processo de planejamento colaborativo e de garantir que as idéias e propostas de atividades sejam rotineiramente compartilhadas.

Para finalizar, é importante ter em mente que é necessário considerar estas características como mutuamente dependentes, no sentido de que cada uma, isoladamente, pode não surtir efeitos significativos em termos de eficácia. E que é a combinação desses fatores que permite entender o papel positivo que essas características podem exercer sobre a qualidade de ensino.

A relação Família-Escola na Contemporaneidade
1. Esse fenômeno é também fruto de um novo contexto social, resultante de mudanças tanto no seio da família quanto no âmbito dos processos escolares.
Isso porque desde meados do século XX, especialmente em suas últimas décadas, mudanças importantes vêm afetando, ao mesmo tempo, a instituição familiar e o sistema escolar, levando ao aparecimento de novos traços e desenhando novos contornos nas relações entre essas duas grandes instâncias de socialização.
Parece que temos um movimento muito claro das duas instâncias de socialização infantil e juvenil que são a família e a escola, cujas esferas de atuação passaram a se intersectar, com a escola reconhecendo cada vez mais na família um parceiro importante — bem mais do que no passado — para a realização de suas finalidades de formação.
Instituição social mutante por excelência, a família apresenta configurações próprias a cada sociedade e a cada momento histórico, embora sua existência seja um fato observado universalmente

2. No que tange à família ocidental, característica dos países industrializados, um rápido balanço demográfico de suas principais mutações inclui: (a) decréscimo do número de casamentos, em benefício de novas formas de conjugalidade (em particular, as uniões livres); (b) as elevações constantes da idade de casamento (e de procriação) e da taxa de divórcios; (c) a diversificação dos arranjos familiares, com a difusão de novos tipos de famílias (monoparentais, recompostas, monossexuais); (d) a limitação da prole, associada à generalização do trabalho feminino, ao avanço das técnicas de contracepção, às mudanças nas mentalidades.
A família passou de unidade de produção a unidade de consumo. Uma conjunção de fatores — dentre os quais se incluem sobretudo a proibição do trabalho infantil, a extensão dos períodos de escolaridade obrigatória e a criação dos sistemas de seguridade social — fez com que os filhos deixassem de representar para os pais uma perspectiva de aumento da renda familiar ou de recurso contra suas inseguranças no momento da velhice.
Limitar a prole torna-se então o meio principal de investir o máximo em cada filho para poder oferecer a ele as melhores oportunidades possíveis. De «capital», a criança se metamorfoseia em «custo econômico», ou, nas em “bem de consumo afetivo”, pois vem ao mundo, sobretudo para satisfazer necessidades afetivas e relacionais dos pais.
A família igualitária vai assim, pouco a pouco, substituindo a família hierárquica. Na família contemporânea, a noção de respeito não desapareceu, ela mudou de sentido. Ela marca, doravante, o reconhecimento, não mais de uma autoridade superior, mas do direito de todo indivíduo, pequeno ou grande, de ser considerado uma pessoa.
Claro que no bojo desse movimento emergem novos valores educacionais, preconizando o respeito pela individualidade e pela autonomia juvenis, o liberalismo nas relações entre pais e filhos, que agora devem se pautar não mais pelo autoritarismo, mas sim pela comunicação e pelo diálogo. Em suma, os pais tornam-se provedores de bem-estar psicológico para os filhos.
Os pais tornam-se, assim, os responsáveis pelos êxitos e fracassos (escolares, profissionais) dos filhos, tomando para si a tarefa de instalá-los da melhor forma possível na sociedade. Para isso mobilizam um conjunto de estratégias visando elevar ao máximo a competitividade e as chances de sucesso do filho, sobretudo face ao sistema escolar, o qual, por sua vez, ganha importância crescente como instância de legitimação individual e de definição dos destinos ocupacionais. Tendo se tornado quase impossível a transmissão direta dos ofícios dos pais aos filhos, o processo de profissionalização passa cada vez mais por agências específicas, dentre as quais a mais importante é, sem dúvida, a escola.

3. E a escola, como essas mudanças a afetam?
Ao lado desses fenômenos, modificações importantes atingiram também o sistema escolar e os processos de escolarização. Sob o peso de fatores como as legislações de extensão da escolaridade obrigatória, as políticas de democratização do acesso ao ensino, a complexificação das redes escolares e a diversificação dos perfis dos estabelecimentos de ensino, as mudanças internas nos currículos, nos princípios e métodos pedagógicos, é todo o funcionamento das instituições escolares que passa a influenciar intensamente o dia a dia das famílias.
Já a partir de inícios do século XX, com o movimento escolanovista, os métodos pedagógicos tradicionais passam a ser questionados e contrapostos às pedagogias centradas no aluno, que recusam a concepção da criança como um adulto em miniatura e defendem a necessidade de se atentar para as características próprias da infância e de se adaptar o ensino à natureza do educando. Essas novas perspectivas encaram o aluno como um elemento ativo do processo de ensino-aprendizagem.
O que significa que a instituição escolar deve conceber seu trabalho educativo em conexão com as vivências trazidas de casa pelo educando. Hoje, mais do que nunca, o discurso da escola afirma a necessidade de se conhecer a família para bem se compreender a criança, assim como para obter uma continuidade entre sua própria ação educacional e a da família.
4. Você consegue compreender como essas mudanças afetam a relação família-escola?
Sob o argumento da necessidade de se conhecer o aluno para a ele ajustar a ação pedagógica, o coletivo de educadores da escola (professores, orientadores e outros) busca hoje ativamente e detém efetivamente informações sobre os acontecimentos mais íntimos da vida familiar, como crises e separações conjugais, doenças, desemprego, etc. No mesmo sentido, a escola estende agora sua área de atuação em direção a terrenos reservados, no passado, à socialização familiar, como, por exemplo, a educação afetivo-sexual. A esse respeito, os sociólogos falam hoje de uma verdadeira redefinição da divisão do trabalho entre as duas instâncias.
Um sintoma desse fato seria o surgimento, no interior do sistema escolar, de todo um conjunto de serviços oferecidos por especialistas (psicólogos, psico-pedagogos, fonoaudiólogos, etc.), visando auxiliar a família.
Se, portanto, a família vem penetrando crescentemente os espaços escolares, a escola também, por sua vez, alargou consideravelmente sua zona de interação com a instituição familiar.

Resumindo:
- Podemos afirmar que, no passado, as relações entre a família e a escola eram bem menos freqüentes e, sobretudo, mais restritas em sua natureza, isto é, o campo e o teor das trocas eram bem mais limitados, sendo impensável uma interferência dos pais em questões internas ao ensino ou á sala de aula.
- Há três processos que respondem fundamentalmente pelas metamorfoses assistidas nas relações entre as famílias e a escola na atualidade.
1. O processo de aproximação dessas duas instâncias no âmbito da sociedade ou seja, uma imbricação de territórios
2. A individualização da relação, hoje há nítida acentuação das interações face a face entre pais e educadores;
3. A redefinição de papéis, da divisão do trabalho educacional entre as duas partes. A escola não se limita mais às tarefas voltadas para o desenvolvimento intelectual dos alunos. A família passa a reivindicar o direito de intervir no terreno da aprendizagem e das questões de ordem pedagógica e disciplinas.

5. Não há mais uma clara definição de fronteiras. Seria ingênuo acreditar que todos esses processos ocorrem sem tensões ou contradições.
Baseado no texto de Maria Alice Nogueira.
A autora nos apresentou alguns elementos que permitem refletir sobre a delicada relação entre família-escola.
Agora, gostaríamos muito de conhecer a realidade do seu trabalho e o modo como você compreende essa relação e, mais importante, suas ações concretizadas na prática do dia a dia escolar.
Para isso, vá até o fórum e dialogue com seus pares! Essa é uma possibilidade de termos consciência daquilo que fazemos, desvelando práticas desconhecidos por nós.

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